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13 de maio de 2009

Dia 13 de Maio, Dia dos Pretos Velhos


Firma ponto minha gente
Preto velho vai chegar
Ele vem de Aruanda
Ele vem pra trabalhar
Saravá o Preto Velho
Saravá, saravá, saravá, Ele chegou no terreiro
Ele vem nos ajudar

***

O dia 13 de maio é o dia dos Pretos Velhos. Mesmo dia da abolição da escravidão dos negros, talvez por isso se comemore nesse dia.

Os Pretos Velhos, entidades trabalhadoras do astral. Não necessariamente na Umbanda, mas em todas as dimensões da vida sem bandeira definida. Geralmente se manifestam nas sessões de Umbanda, por isso são ditas entidades dessa religião. Mas como todo irmão da Luz, essas entidades trabalham para todo aquele que solicitar sua ajuda, idependente da religião ou credo.

Eles se manifestam como os antigos escravos, curvados, humildes no trabalho que realizam, mesmo sendo entidades tão evoluidas. Têm uma grande iniciativa para ajudar todos que precisam de auxilio com imenso prazer e amor fraternal. Sua vibração sutil e intensa nos passa grande sensação de conforto e proteção. Na Umbanda representam a simplicidade, a humildade, a benevolência e a crença no “poder maior”, no Divino.

Seus trabalhos variam das mais diversas formas. Trabalham tanto na Luz quanto nas sombras. Por seres entidades muito antigas possuem grande conhecimento e realizam trabalhos dos mais difíceis, por isso estão em constante contato com trabalhos de demanda. Não para fazer o mal, mas sim para detê-lo. São conhecedores da medicina natural nos curando com seus galhinhos de arruda, seus copinhos de água com mel, suas guias, etc. Nos ajudam através de suas mirongas, desmanchando demandas, afastando de nós aqueles que querem nosso mal, cantado seus pontos, fumando seu pito, batendo com o pé no chão. Nos oferecem seus deliciosos doces, pé-de-moleque, rapadura, merengue, cocada, para nosso corpo astral receber esses doces fluidificados com suas vibrações.

Esses são os queridos Pretos Velhos, anciões do astral, nossos protetores.

Não se esqueça deles, faça sua oração, acenda uma vela e peça para que eles levem essa luz para aqueles que precisam.

***

Quem é aquele velhinho
Que vem no caminho
Andando devagar
Com seu cachimbo na boca
Pitando a fumaça e jogando pro ar
Ele é do cativeiro
Ele é Preto Velho
Ele é mirongueiro

***


AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque contei-as... Foram sete.

Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei. Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?

E ele, suavemente respondeu: Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.

A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...

A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.

A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.

A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.

A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na UMBANDA, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.

A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.

A sétima, filho notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.

Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.

Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.


Autor Desconhecido
Do livro: Umbanda de Todos Nós
W.W.da Matta e Silva (Mestre Yapacany)

***


Rei Congo vem descendo o morro
O morro de Santa Fé
Trazendo as suas guias
Trazendo o seu guiné
Pra salvar filhos de fé

19 de abril de 2009

TAMBORES DE ANGOLA


” Vovó não quer casca de coco no terreiro...
Vovó não quer casca de coco no terreiro...
Sofra não se lembrar dos tempos do cativeiro...
Só pra não se lembrar dos tempos do cativeiro.”


Era o cântico dos antigos escravos com os toques cadenciados dos tambores de Angola.

Após as atividades a que eu me dediquei, guardava na alma os ensinamentos simples daquelas almas elevadas. Não existia em minha alma nenhum resquício de preconceito. Aprendi que, no trabalho do bem, ninguém detém a verdade absoluta e para tudo existe uma explicação.

As atividades dos nossos irmãos que se apresentam como pretos-velhos, caboclos ou sob outras formas perispirituais, devem ser analisadas com mais carinho. Sua roupagem fluídica pouco importa, diante dos fatores morais. Aprendi que, mesmo me afinizando com as tarefas realizadas num centro de orientação espírita, não poderia desprezar aqueles irmãos que tinham tarefas em outros campos espirituais.

Meditava a respeito dessas questões quando o meu mentor aproximou-se de mim falando-

- Ângelo, acredito que agora você está apto a estudar com maior clareza outras manifestações da religiosidade do nosso povo. As lições de fraternidade estão firmes em seu espírito.

- E agora eu sei que no universo nada é absolutamente igual. Podemos estar a serviço do Pai mas podemos também estar trabalhando de formas diferentes, em departamentos diferentes, mas levando a mesma bandeira: o amor e a caridade, com o respeito por aqueles que não pensam como nós, mas trabalham para o mesmo Senhor.

A noite estava radiante, quando a observávamos da nossa colônia espiritual. Éramos felizes por participar de todas essas oportunidades que a bondade de Deus nos concedia. As estrelas salpicavam o céu, convidando-nos a refletir nas lições da vida.

Um cometa rasgava o espaço em direção a outras regiões do infinito.

- Veja, Ângelo, acompanhe a rota deste cometa - falou o bondoso mentor.

- Creio que, mesmo para um desencarnado minhas condições, é difícil acompanhar por muito tempo o roteiro de luz da natureza. Minha visão espiritual já está um tanto dilatada, mas mesmo assim.

- Vamos, Ângelo, volitemos em direção à luz - convidou-me o companheiro espiritual.

Tomando-me pela mão, conduziu-me a regiões mais elevadas que a nossa, acompanhando o rastro luminoso do cometa, que agora se apresentava aos nossos olhos espirituais como uma estrela de intensa luminosidade. Fomos subindo, subindo, até que eu não podia mais acompanhar o meu amigo espiritual rumo a esferas mais sutis, superiores. A estrela ascendia cada vez mais, e agora eu só poderia prosseguir com o impulso mental do meu mentor.

As regiões espirituais que agora eu estava observando eram totalmente diferentes do nosso plano. Parecia que uma música suave irradiava de todas as direções. Indizível alegria se apossava de meu espírito. Não compreendia como um simples cometa ou uma simples estrela pudesse atravessar as barreiras das dimensões e se dirigir para as alturas vibracionais.

Agora não podíamos acompanhar mais o seu rastro. Paramos nossa volitação em um posto dos planos mais elevados, nas regiões espirituais. O mentor amoroso apontava-me a direção em que o cometa rasgava o espaço espiritual, dirigindo-se a outras dimensões.

- Daqui não podemos passar, meu amigo, Ângelo. Entretanto, acompanharemos o percurso luminoso desse astro errante da espiritualidade.

- Quer dizer então que não é um simples cometa que estamos observando? - perguntei, num misto de espanto e curiosidade.

- Sim, meu filho, é um cometa, um astro, uma estrela ou como você quiser denominar. Não importa a forma como descrevemos. É uma luz que não podemos mais acompanhar com nossos próprios recursos. Já estamos muito distantes vibratoriamente de nossa colônia espiritual e não detemos ainda possibilidades de escalar outros planos mais sutis. Resta-nos observar, de longe, a chuva de estrelas.

Calei-me sem entender o que o companheiro espiritual estava querendo dizer. Se ele que era mais elevado não conseguia ir além, quem diria eu, espírito muito endividado, que me fazia de repórter do além, escrevendo para o correio dos mortais.

- Observe, Ângelo - falou, apontando na direção da luz astral do cometa, que a esta hora estava irradiando várias cores.
Outras luzes vinham ao encontro daquela que observávamos. Parecia que vários cometas faziam uma dança sideral, um em torno do outro. Eram luzes irmãs da luz que nós acompanhamos.

- Afinal, qual é o significado de tais luzes, com tamanha beleza? - perguntei.

- É a luz astral de um dos pretos-velhos que tão bondosamente nos atendeu durante a nossa jornada na tenda umbandista. Não podemos segui-lo mais. Sua vibração ultrapassa a nossa e vai além de nossas possibilidades. É a luz da simplicidade, do amor e da fraternidade, das quais somos ainda meros aprendizes. Outras entidades elevadas, como ele mesmo, o recebem, e, em nossa visão espiritual um tanto ainda deficiente, só os percebemos como luzes. Não podemos ainda percebê-los como são verdadeiramente. Por isso, uma dessas luzes espirituais assumiu a forma fluí dica de um preto-velho. Somente assim poderíamos percebê-la. Agora, no entanto, está retomando a sua esfera irradiante, quem sabe, para assumir outra missão, em nome do Eterno Bem.

Só agora eu tinha uma noção a respeito das entidades espirituais que assumem certas tarefas em outros planos da vida. Faltava-me ainda muita experiência para compreender os planos de Deus para os seus filhos.

Retornamos à nossa colônia espiritual com a lembrança das esferas superiores, agradecendo, em nossas preces, pela oportunidade que Deus nos havia concedido de conviver, por algum tempo, com as luzes de Aruanda.



TAMBORES DE ANGOLA
Robson Pinheiro
Ditado pelo espírito Ângelo Inácio

17 de abril de 2009

O PERDÃO NÃO TEM CONTRA-INDICAÇÃO


As lembranças de uma infância atribulada ainda ressoavam na memória daquela senhora de meia-idade. Embora houvesse tentado não cometer os mesmos “erros”, equivocou-se na educação de seus filhos. Foram mimos demasiados, excesso de cuidado, e tudo isso os levou a sofrimentos inevitáveis.

Lembrava-se da mãe que, além do mau exemplo, traindo o marido a olhos vistos, não dava carinho nem atenção às crianças, além do pai alcoólatra e agressivo que fazia com que eles o temessem e não o respeitassem.

Lembrava-se das noites de insônia provocadas pelo medo de que o pai cumprisse a promessa de matar a mãe, das vezes em que chorava baixinho, encolhida debaixo da cama, seu refúgio; lembra-se também da falta de diálogo, de conselho, de amor, da adolescência sem instrução sobre as transformações que o corpo sofria, da vergonha de levar os amigos para dentro de casa, das piadinhas que era obrigada a ouvir na escola sobre o desregramento dos pais e de como isso a machucava, pois, embora todos os defeitos, eram seus pais.

Lembrava-se da morte do pai e da frase dita pela mãe que retumbava em seus ouvidos: “Ainda bem que ele se foi. Só incomodava mesmo!”.

Lembrava-se, ainda, de quando teve de sair de casa em plena adolescência para buscar seu destino. Tímida, inexperiente e medrosa, fora jogada nos braços da vida, tendo de aprender a duras penas que as pessoas mentem, logram, julgam, machucam. Seu suor era seu sustento, e, apesar dos assédios, jurou que se manteria correta. Amores, desamores, alegrias e muitas dores fizeram sua caminhada.

Saudades da família. Mas que família? Saudades do pai, cuja figura era idolatrada pelas amigas, mas que, para ela, nem a lembrança que guardava chegava a ser boa. Sentia saudades da mãe que não dava notícias, embora soubesse que ela se sentia feliz por estar longe, já que não concordava com suas atitudes.

Depressiva pelo presente e pelo passado, passou a ter crises de culpa por não conseguir sentir amor por sua mãe. Em seu íntimo algo gritava “urgência” para resolver tal sentimento.

Em poucos dias chegou a notícia de que sua mãe estava muito doente.

A idéia de que ela pudesse morrer em breve atiçou mais ainda sua consciência, que brigava entre o perdão e a mágoa da qual não conseguia se libertar.

Fazia algum tempo que começara a freqüentar um terreiro de Umbanda, onde gostava principalmente das palestras que ensinavam as pessoas a melhorar enquanto vivas, evitando sofrimentos posteriores. Naquele dia solicitou uma ficha de atendimento, pois precisava desanuviar a mente.

- Saravá, zi fia!

O cumprimento do preto velho foi como um detonador das emoções represadas dela, que, sem responde, deixou as lágrimas saírem de seus olhos, em choro doído.

“Descarrega Umbanda Vem descarregar Descarrega a filha Que ela é filha de Oxalá”

Cantava o preto velho, enquanto batia nas costas da mulher com um galho de arruda. Colocando a mão em seu peito, fez lá suas mandingas para retirar uma mancha escurecida que se fixara no corpo astral dela. Aquela energia condensada já fazia parte de seu agregado qual simbiose, e ao ser retirada seu corpo físico, acusou a falta com uma ardência no local.

- Zi fia já estava acostumada com esse nó apertando o peito, mas é preciso desatar antes que o “batedor” canse de fazer força para continuar pulsando.

O preto velho, chamando o cambono, solicitou que ele pegasse um pano branco, água e algumas ervas, com o que fez um emplastro. Limpando à altura do fígado da mulher, com seu galho de arruda e algumas baforadas de seu cachimbo, segurou o emplastro sobre o local por algum tempo, enquanto, com sua voz pausada, esclarecia amorosamente:

- Zi fia está atribulada! Preto velho pode ver que dói o coração e que o alimento que engole já não assenta mais no estômago.

- É verdade. Vivo com indigestão.

- Preto velho vai dizer que a filha está sofrendo por causa da mágoa e para essa dor só há um remédio que não está à venda. A mágoa cria um casulo enegrecido que enclausura alguns órgãos, principalmente o fígado, impedindoos de funcionar. Com o tempo, esses órgãos adoecem, e, se a energia persistir, de pouco adianta tratar o físico, pois, ao desencarnar, leva-se essa marca impressa no corpo astral, modelador do físico na próxima encarnação. Quantos seres ainda na infância precisam de transplante de órgão, sinal evidente de carma gerado em vida passada.

- Meu pai, eu não quero essa mágoa, mas não consigo me libertar dela. Minha mãe nunca fez nada para que eu a amasse, pelo contrário.

- Preto velho tem que perguntar uma coisa para a filha: quem foi que a pariu?

- Ela.

- Parir nem sempre atesta amor ou bondade, mas é a maior oportunidade que pode ser dada a um espírito necessitado de reajusta. Milhões deles, enfileirados, aguardam uma barriga que os aninhe, oportunizando a bênção do esquecimento das torturantes dores da consciência. Preto velho sempre fala que do outro lado não há aspirina. Lá a dor é dor, por isso a matéria é tão importante, pois é onde nos escondemos por um tempo precioso, além de poder, por meio dela drenar as impurezas que agregamos ao espírito ao longo da caminhada. Você, filha, era um desses espíritos ansiosos pela reencarnação. Por necessidade e afinidade, teve de vir por intermédios desses pais, pois, na execução das leis divinas, não existe acaso. No passado, foram filhos abandonados; hoje são pais omissos. É hora de encerrar o ciclo, de curar as desavenças, e cabe a você fazer isso. Não se omita, pois saiba que, se hoje você é a vítima, é sinal de que já foi algoz. Veja sua mãe como um espírito que hoje precisa de sua compreensão e não de seu julgamento. Deixe seu coração falar aproveitando que ele está querendo exercer o perdão. Vá até ela enquanto pode lhe ouvir e fale de suas dores, de suas mágoas, pois só assim vai aliviar seu peito. Depois, liberte o amor que deixou guardado por todos esses anos, num abraço de paz. Mate o passado, antes que ele faça isso com vocês duas. Descongestione seu fígado, filha.

Após esse dia a mulher se apressou para visitar sua mãe e fazer o que o preto velho aconselhara. Conversaram e, entre lágrimas e risos, tiveram a oportunidade de conviver muito próximas durante apenas sessenta dias. O tempo de vida da mãe que lhe restava na Terra.

- Presta atenção, camboninho, a vida na Terra é como a fumaça do cachimbo do preto velho; num sopro ela se dissipa no ar. O tempo de Deus é diferente do nosso, por isso precisamos ficar alertas para os pedidos de nosso coração, que é o ouvido de nossa alma, por onde Deus se comunica conosco. Da vida temos que guardar as coisas boas e nos esquecer das más, para que possamos ser felizes. Levar entulhos como a mágoa para o além-túmulo é projetar dores desnecessárias para o futuro. Na bula do perdão a indicação é que se deve tomar uma dose dele várias vezes todos os dias: não há contraindicação e a cura é certa.

- Saravá, zi fio! Até a volta! Nego veio abençoa em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo!

- Saravá, meu Pai! Proteção para seu aparelho também. Até a volta!

Vovó Benta


SAVISCKI, Leni W.
Causos de Umbanda – A psicologia dos pretos velhos.

Pelo Espírito Vovó Benta.
1. ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2006.