26 de março de 2009

Retrocesso na civilização


Tomando conhecimento da agressão sofrida por uma professora na Escola Estadual Bahia, aqui em Porto Alegre, relembrando que ontem escrevi que detesto o progresso, sou obrigado a concluir que estamos vivendo um retrocesso na civilização.
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Esses assaltos, essa violência disseminada que começa nas ruas e vai desembocar sórdida e monstruosamente no interior dos presídios, esse aperto e sufocamento urbano que geram o medo e o terror, tanto no Bairro Rubem Berta em Porto Alegre quanto nas ruas que vizinham com as franjas das favelas em Copacabana, são sinais evidentes de um regresso no processo civilizatório.
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E, para mal dos pecados, se não se rebelam os presos porque lhes foi concedida pelo poder público a missão de eles próprios administrarem as galerias dos presídios, rebelam-se, no entanto, os estudantes e apertam o torniquete da indisciplina contra os professores, na ânsia de eles próprios administrarem as escolas.

Se isso não é uma decadência civilizatória, não sei mais o que seja.
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Os alunos desrespeitarem as professoras, desacatarem, desafiarem as professoras, agredirem fisicamente as professoras, isso é uma queda brutal no avanço da cordialidade e da solidariedade entre as pessoas.
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O zelo amantíssimo e o respeito reverencial que eu tive pelas minhas professoras primárias podem ser simbolizados no verso célebre de Ataulfo Alves: “Que saudade da professorinha/ que me ensinou o bê-a-bá/ onde andará Mariazinha/ meu primeiro amor, onde andará?”.
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Onde andará aquela admiração devotada que tínhamos por nossas professoras, elas eram para nós espécie de semideusas, de seres supremos, intocáveis, superiores até mesmo a nossas mães e nossos pais.

Nutríamos um acatamento e uma afeição basbaques por nossas professoras.

Todos os dias corríamos para a escola sedentos de saber e de experiência, em busca dos ensinamentos e da experiência de nossas professoras, nossos ídolos, nossos guias, nossas bússolas, nosso norte.

E ver hoje a professora Glaucia da Escola Estadual Bahia e tantas outras professoras terem seus cabelos puxados, serem pisoteadas, soqueadas e levadas até o hospital, depois de serem desrespeitadas e ofendidas pelos alunos, é uma iconoclastia horrenda que agride nossa consciência.

Sem dúvida, vivemos um retrocesso na civilização.

O mundo enlouqueceu ou nós que amávamos nossas professoras estamos loucos?


PAULO SANT’ANA
Zero Hora 25 de março de 2009 | N° 15918Alerta

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