7 de maio de 2009

O FLAGELO DAS DROGAS

As drogas, arrisco a dizer, é o mal do século, ou pelo menos dessa primeira década do novo milênio. É estranho pensar que substância encontradas na natureza e manipuladas pelo homem possa trazer tanto estrago. É gerada uma grande rede de conexão em volta de uma pessoa drogada, os pais, familiares, amigos, traficantes, bandidos, policiais, a sociedade - sem contar os grupos formados no astral, tanto das sombras quanto da Luz. A sociedade toda acaba sofrendo as consequencias por causa das drogas, por isso afirmo ser o grande mal do século.

Há alguns dias atrás postei a notícia de uma mãe que precisou matar o próprio filho por causa do crack. Em um relato emocionante ela desabafou os problemas enfrentados por todos para conseguir ajudar o filho. Não adiantou, foi preciso o pior, para todos. Novos laços cármicos foram criados por essa família, novas provas virão no futuro.

Um novo episódio veio à tona em Porto Alegre. Outro filho drogado. Mas desta vez parece que a Luz prevaleceu sobra as falanges das sombras. O rapaz se arrependeu e o pior não aconteceu, pelo contrário, existem boas perspectivas para o rapaz e sua família.

Leia a seguir a entrevista com o pai do rapaz criado com boas condições de vida, e mesmo assim caiu diante do crack.

***


O FLAGELO DAS DROGAS
“Eles estão matando essa juventude”

Entrevista: zelador de 56 anos, PAI DE VICIADO EM CRACK

Horas depois de enfrentar traficantes para reaver a moto que o filho de 19 anos, viciado, trocara por crack, o zelador de 56 anos conversou com Zero Hora. Em 50 minutos de diálogo, o homem revelou-se destemido, disposto a dar a vida para salvar o filho das drogas. A seguir, uma síntese da entrevista:

Zero Hora – Quando seu filho começou a usar crack?

Pai – Ele tinha 18 anos. Ele andava com más companhias, aqui do bairro.

ZH – Como vocês tomaram conhecimento?

Pai – Mais ou menos em fevereiro do ano passado ele chegou para mim e falou: pai, infelizmente eu estou nesse negócio da pedra, que é muito pavoroso, mas é mais forte do que eu. Queria que tu me ajudasse.

ZH – O senhor tinha percebido algo antes?

Pai – Percebi que ele começou a não ir ao serviço, a levantar tarde, relaxar no colégio, deixou de fazer a higiene pessoal, emagreceu. Um dia eu perguntei o que estava acontecendo. Ele ficou triste, foi dormir, e não falou nada. No outro dia ele contou o que estava acontecendo.

ZH – Ele já tinha usado drogas antes?

Pai – Nunca.

ZH – Ele começou direto no crack?

Pai – Acho que ele começou na maconha e, logo em seguida, talvez um mês depois, ele passou para o crack.

ZH – O que vocês fizeram ao tomar conhecimento?

Pai – Conversei com médicos que moram no prédio. Eles me orientaram a procurar um psiquiatra para começar o tratamento. Aí começou o nosso martírio. Conseguimos interná-lo no Hospital São Pedro, onde ele ficou 33 dias. Mas, antes disso, a minha mulher largou três serviços que tinha, como doméstica, e mudou-se com ele para um sítio. Ficaram oito meses lá. A internação foi depois que ele voltou.

ZH – Durante os oito meses ele usou a droga?

Pai – Não usou. Ele só vinha para cá nos finais de semana. Tinha namorada, jogava futebol, estava bem. Depois disso, ele foi para o São Pedro, teve alta e arrumou um serviço no depósito de uma livraria. Ele tinha moto.

ZH – A moto que ele entregou para os traficantes?

Pai – Sim, a moto era minha. Eu comprei não faz um mês. Ele tinha dificuldades para ir ao trabalho em função de precisar de dois ônibus.

ZH – O senhor achou que ele estava curado do vício?

Pai – Curado, não. Acho que isso não é fácil de curar. Ele toma medicamentos fortíssimos desde que saiu do hospital.

ZH – Como foi a recaída?

Pai – No domingo, após passar o feriadão num sítio com a minha mulher, ele voltou para casa meio calado. A gente ficou preocupada. Nós demos um diazepan e ele foi dormir. Na segunda-feira, como tinha folga, dormiu até tarde. Acordou, almoçou, saiu de casa e voltou uns 40 minutos depois. No final da tarde, foi na namorada. Mais tarde, a sogra dele nos ligou dizendo que ele tinha pedido R$ 20. Nós começamos a nos preocupar. Ele chegou em casa, no final da tarde, quieto. Pediu R$ 5 para sair e tomar cerveja. Dei os 5 pila. Aquela coisa de pai, né... Foi o começo do nosso martírio.

ZH – O que aconteceu depois?

Pai – Ele saiu por volta das seis da tarde de casa e não voltou mais. Nós amanhecemos acordado. Às 12h de ontem (terça-feira), ele nos ligou de um telefone que não era dele. Disse que estava com um amigo. Eu vi tudo. Mas fiquei aliviado. Ele estava vivo. Por volta das 13h, ele ligou para o meu celular chorando. Disse que o haviam assaltado e levado a moto. Lá no fundo eu sabia que não era assalto. Fui numa delegacia e registrei queixa conforme ele me disse. Nesse meio tempo, a minha mulher foi buscá-lo. No carro, vindo para casa, ele começou a chorar a e contou tudo.

ZH – O que aconteceu?

Pai – Ele nos falou que entregou a moto para os traficantes em troca de R$ 250 em pedra. Um policial nos falou que dava umas 50 pedras.

ZH – A moto vale quanto?

Pai – Uns R$ 6 mil. É uma Suzuki Yes, 125, ano 2010. Comprei há 20 dias. Não tenho nem o carnê para pagar.

ZH – O que sente um pai nessa hora?

Pai – Raiva. Culpa por não ter feito alguma coisa, ou ter feito demais. Tu ficas te perguntando, tchê: por quê? Eu tenho um filho. As minhas irmãs têm cinco, e estão todos formados. Tenho quatro irmãos, e todos têm filhos formados. Eles criaram os filhos deles em bairros pobres, miseráveis. Eu criei num bairro nobre. Dei azar.

ZH – A criação de vocês pode ter tido alguma influência?

Pai – Pensando em ser um bom pai, posso ter sido um mau pai. Eu dei muita coisa para ele, desde pequeno. Acho que esse foi o meu erro. E por isso vou ter de pagar por um bom tempo. Mas tenho a minha consciência tranquila.

ZH – Como o senhor chegou até a moto?

Pai – Eu perguntei se ele sabia onde estava a moto, ele disse que sim. Fui na Brigada, contei a história e eles nos ajudaram. O policial disse para mim assim: olha, vou ser franco, se o seu filho tiver coragem de colaborar nós vamos prender o vagabundo e recuperar a moto. Mas não pode dar errado. Se der errado, o senhor não acha mais a moto e o seu filho pode ser morto. Decidi colaborar e arriscar. Isso não pode mais continuar.

ZH – Como foi a ação?

Pai – O meu filho foi orientado a chegar na casa do traficante e a pedir mais droga. Quando o cara fosse entregar o crack, ele deveria acionar o celular, que estava no bolso. A ligação seria a senha para os brigadianos, que estavam próximos, chegar e prender o cara em flagrante. Nada podia dar errado. Quando tocou o telefone do brigadiano, eles correram para pegar o cara. As viaturas que estava disfarçadas entraram na vila. A brigada foi sensacional.

ZH – E a moto?

Pai – A moto tinha sido negociada por um adolescente de 16 anos. Após a prisão, ele ligou para quem estava com a moto. Duas horas depois, quando ainda estávamos na vila, alguém ligou avisando que ela havia sido abandonada.

ZH – O que vocês pensam em fazer agora?

Pai – Eu confio na Justiça. Assim como eu fui lá, falei a verdade, eu espero que eles me deem um pouco de proteção, tchê. Estamos querendo levá-lo para uma fazenda em Soledade. Enquanto isso não acontecer, ele vai ficar em casa, proibido de sair. Agora (às 18h de ontem) ele está sedado, dormindo.

ZH – Vocês estão com medo?

Pai – Um medo terrível, cara! Mas estamos contando com a solidariedade das pessoas, que me cumprimentam pela coragem de encarar e de ir lá enfrentar os vagabundos. Ele estão matando essa gurizada vendendo 300 pedras numa manhã. Esses caras têm de pagar pelo que fazem. Eles estão matando essa juventude.


07 de maio de 2009 | N° 15962
Zero Hora

Noticia completa

Noticia completa

Nenhum comentário: