Recebo do leitor Laerte Silva (benegativo@yahoo.com.br) uma reflexão sobre os tempos de violência que estamos vivendo, constando um interessante diagnóstico psicológico sobre as causas da violência: “Em uma reportagem da Veja, em 1997, Flávia Varela falava sobre o que definia como delinquência juvenil de elefantes, na África, um fenômeno que estava atingindo proporções gigantescas naquela época, dizia o texto. Esses elefantes, em grupos, tinham passado a atacar rinocerontes em vários parques nacionais. Depois de derrubarem a vítima, eles se ajoelhavam e enterravam suas presas no corpo da mesma. ‘O resultado é um banho de sangue nas savanas. Em sua sanha criminosa, os delinquentes pesos pesados já mataram um homem que estava em seu caminho’, arrematava a jornalista. Mas por que aqueles jovens elefantes estariam apresentando tal comportamento? A resposta mais provável, dizia a autora da matéria, poderia figurar em algum manual de psicologia: ‘Porque vêm de lares desfeitos e cresceram sem a orientação e o controle de adultos experientes’.
Os bandos que detonavam nas savanas eram formados por animais retirados, ainda quando filhotes, do maior parque da África do Sul, o Kruger. Os pais desses elefantinhos tinham sido mortos para evitar o desequilíbrio ecológico representado pelo excesso desses animais. Na sequência, os órfãos haviam sido transferidos para restabelecer a população de outras reservas. Acontece que esse tipo de animal vive em bandos, são muito unidos. Os mais velhos ocupam o papel de educadores e existe hierarquia bem definida. Logo, dava a entender a reportagem, o afastamento dos pais teria provocado danos ‘psicológicos’ – talvez irreparáveis – naqueles adolescentes rebeldes. David Barrit, do Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais, dizia à revista que ninguém havia ensinado aqueles elefantes a serem ‘bons cidadãos’: ‘Agora, são delinquentes e não sabemos como contê-los’.
A rebeldia parecia ser mais agravada entre os jovens machos, pelo efeito da explosão da testosterona nessa época de suas vidas. Em condições normais, nos bandos, os machos mais velhos conseguiam conter os excessos comportamentais desses jovens. Mas, nessa situação, além da falta de limites, esses jovens pareciam estar enfrentando esse ‘gatilho’ hormonal com alguns anos de antecedência e com duração de até três meses, quando o habitual seriam alguns dias. ‘Tudo parece ter a ver com a desorganização social por que passaram’, dizia, na época, à revista americana Time, a zoóloga Marian Garai. Douw Dropler, veterinário do parque Kruger, avaliava: ‘Já imaginávamos que a separação dos adultos pudesse ser traumática, mas não sabíamos quanto’.
Assim, naquela época, para compensar o erro inicial, as autoridades estavam enviando fêmeas adultas para os locais onde as gangues da pesada estavam atuando, ‘especialmente os parques Pilanesberg e Hluhluwe-Umfolozi’. Acreditavam que as elefantas pudessem ‘pôr ordem no pedaço’, já que as fêmeas têm grande poder disciplinador e possuem a função organizadora dentro das manadas.
De lá para cá, mais de uma década se passou e não sei o desfecho daquela história com os elefantes. Mas o inevitável é fazer uma comparação com o que estamos vivendo agora em nossa sociedade de humanos. Bandos de adolescentes – mesmo os ‘bem-nascidos’ – saem por aí espancando e mesmo matando, e as medidas de que se dispõe para enfrentar a situação se mostram insuficientes. Seriam todos órfãos? Certamente que não; mas parece que também cresceram sob algum tipo de abandono e as consequências se apresentam de forma dramática nessa fase de suas vidas, atingindo todos os que estão à volta. Para o caso dos jovens e rebeldes elefantes africanos, os cientistas tinham uma proposta. E para os humanos? Isso me faz lembrar de uma peça publicitária, acho que do Gelol: ‘Não basta ser pai (ou mãe), tem que participar’”.
Os bandos que detonavam nas savanas eram formados por animais retirados, ainda quando filhotes, do maior parque da África do Sul, o Kruger. Os pais desses elefantinhos tinham sido mortos para evitar o desequilíbrio ecológico representado pelo excesso desses animais. Na sequência, os órfãos haviam sido transferidos para restabelecer a população de outras reservas. Acontece que esse tipo de animal vive em bandos, são muito unidos. Os mais velhos ocupam o papel de educadores e existe hierarquia bem definida. Logo, dava a entender a reportagem, o afastamento dos pais teria provocado danos ‘psicológicos’ – talvez irreparáveis – naqueles adolescentes rebeldes. David Barrit, do Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais, dizia à revista que ninguém havia ensinado aqueles elefantes a serem ‘bons cidadãos’: ‘Agora, são delinquentes e não sabemos como contê-los’.
A rebeldia parecia ser mais agravada entre os jovens machos, pelo efeito da explosão da testosterona nessa época de suas vidas. Em condições normais, nos bandos, os machos mais velhos conseguiam conter os excessos comportamentais desses jovens. Mas, nessa situação, além da falta de limites, esses jovens pareciam estar enfrentando esse ‘gatilho’ hormonal com alguns anos de antecedência e com duração de até três meses, quando o habitual seriam alguns dias. ‘Tudo parece ter a ver com a desorganização social por que passaram’, dizia, na época, à revista americana Time, a zoóloga Marian Garai. Douw Dropler, veterinário do parque Kruger, avaliava: ‘Já imaginávamos que a separação dos adultos pudesse ser traumática, mas não sabíamos quanto’.
Assim, naquela época, para compensar o erro inicial, as autoridades estavam enviando fêmeas adultas para os locais onde as gangues da pesada estavam atuando, ‘especialmente os parques Pilanesberg e Hluhluwe-Umfolozi’. Acreditavam que as elefantas pudessem ‘pôr ordem no pedaço’, já que as fêmeas têm grande poder disciplinador e possuem a função organizadora dentro das manadas.
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De lá para cá, mais de uma década se passou e não sei o desfecho daquela história com os elefantes. Mas o inevitável é fazer uma comparação com o que estamos vivendo agora em nossa sociedade de humanos. Bandos de adolescentes – mesmo os ‘bem-nascidos’ – saem por aí espancando e mesmo matando, e as medidas de que se dispõe para enfrentar a situação se mostram insuficientes. Seriam todos órfãos? Certamente que não; mas parece que também cresceram sob algum tipo de abandono e as consequências se apresentam de forma dramática nessa fase de suas vidas, atingindo todos os que estão à volta. Para o caso dos jovens e rebeldes elefantes africanos, os cientistas tinham uma proposta. E para os humanos? Isso me faz lembrar de uma peça publicitária, acho que do Gelol: ‘Não basta ser pai (ou mãe), tem que participar’”.
Zero Hora - 11 de abril de 2009 | N° 15935
PAULO SANT’ANA
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