23 de abril de 2009

O senhor das armas, por Eliani Gracez Nedel*

Quem ainda não assistiu, assista ao filme O Senhor das Armas, para ver a realidade do descaso com a vida humana. O filme mostra um traficante de armas que compra armas ilegalmente de militares e as vende em zonas de conflito e de guerrilha, mesmo sabendo que essas armas irão matar toda uma população de inocentes. Mas “o senhor das armas”, personagem vivido por Nicolas Cage, tem uma família que vive confortavelmente. Assim é o político corrupto. Rouba dos necessitados, rouba dinheiro da merenda escolar, rouba superfaturando notas fiscais. Desviando dinheiro daqui e dali. Levando namoradas famosas, que poderiam pagar passagens aéreas, para viajar de avião com dinheiro público. Enquanto isso, o povo anda em ônibus e metrôs abarrotados de tanta gente. O descaso é comigo, é com vocês, é com todas as pessoas que, aos olhos de alguns, não valem nada. Que moral é essa que tomou conta do Brasil? Esta moral, seja ela qual for, infestou a política.

Tudo isso só está acontecendo devido a uma ausência de parâmetros claros e definidos para os limites do poder. O poder corrompeu a mente de seres que estão autocentrados em suas próprias necessidades. Seres que se esqueceram de que o outro também tem necessidades para sobreviver. O brasileiro já se acostumou à corrupção, parece tudo tão corriqueiro, como se isso não tivesse solução. A corrupção no Brasil tem sua origem no “jeitinho brasileiro”, que todo brasileiro tem. Por isso, a crise da ética é uma crise moral. Afinal, questionar a moral dos políticos é questionar esse tal “jeitinho brasileiro” de ser.

Ética não é um conjunto de normas morais, como dizem por aí. Ética é uma reflexão acerca da moral, e não a moral em si. Viver é conviver. E é neste convívio que o ser humano se descobre como um ser de moral. Um ser dotado de uma razão ética que questiona a moral vigente em sua comunidade. Mais do que isso, um ser que se pergunta sobre o que deve fazer. Como agir em determinada situação? Como se comportar perante o outro? Que se pergunta sobre a injustiça, sobre a corrupção e sobre o que fazer com tudo isso.

Mas a verdade é que nem todos se questionam. Nem todos se preocupam com moral ou com ética. Tem gente que não quer saber de nada disso, não está preocupada com quantos vão lesar ou ferir. Não se preocupa com quantos poderão sofrer ou morrer em decorrência do seu egoísmo, e ainda se julga esperta.

23 de abril de 2009 | N° 15948
Zero Hora
*Filósofa

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