Dois cientistas britânicos tentam conseguir uma verba de US$ 256 mil para realizar um estudo em larga escala a fim de provar que pessoas clinicamente mortas podem realmente ter experiências fora do corpo.
Ambos os responsáveis pela iniciativa, o dr. Sam Parnia, pesquisador da Universidade de Southampton e o dr. Peter Fenwick, consultor de neuropsiquiatria da Universidade de Oxford, são cientistas respeitados.
Experiências de quase-morte são mais comuns e costumam incluir a visão de uma luz branca. Já nas chamadas experiências fora do corpo, as pessoas geralmente observam serenamente seu próprio corpo enquanto os médicos trabalham desesperadamente para ressuscitá-lo. Os pesquisadores fundaram um fundo beneficente chamado Horizon Research, para promover o estudo desses fenômenos.
Ano passado, Parnia publicou um estudo indicando que 10% dos pacientes clinicamente mortos que puderam ser ressuscitados têm lembranças do momento em que estavam sem vida. Entre as evidências reunidas pelo cientista está o fato de que alguns desses pacientes reconhecem pessoas com as quais jamais haviam tido contato antes, mas que ajudaram na ressuscitação. Outros se lembram das conversas entre os médicos.
De acordo com o que é aceito pela medicina, estas lembranças não deveriam ser possíveis, devido à ausência de atividade cerebral.
Há muito, esta teoria (sobrevivência da consciência ao corpo) tem sido ricularizada pela comunidade científica. Mesmo aqueles que queriam acreditar que "a verdade está lá fora" acabaram se rendendo ao ceticismo.
Susan Blackmore já foi um dos maiores nomes da pesquisa paranormal na Grã-Bretanha. Ela concluiu em seu livro "Dying to Live", que fala sobre experiências próximas da morte e fora do corpo, que esses casos são resultado da anóxia, a falta de oxigênio no cérebro.
Embora o ceticismo permaneça, os cientistas estão começando a reconhecer que é preciso pesquisar mais.
Em dezembro de 2001, o neurologista holandês Pim van Lommel do hospital Rijnstate, na cidade de Arnhem, liderou uma equipe que publicou um artigo no respeitado jornal de medicina britânico "The Lancet". O estudo mostrou que 18% dos pacientes com morte clínica que puderam depois ser ressuscitados podiam lembrar de experiências próximas da morte mesmo anos depois do evento.
Outro estudo, este conduzido nos Estados Unidos pelo pai da pesquisa das experiências próximas da morte, Kenneth Ring, usou pacientes cegos, que se lembravam de ter visto seu corpo enquanto se encontravam clinicamente mortos, embora ligeiramente fora de foco. O livro "Mindsight" foi inspirado neste estudo.
Nem Fenwick nem os outros cientistas envolvidos nesse tipo de pesquisa postulam a vida após a morte propriamente dita. Eles falam apenas de consciência após a morte.
Mesmo assim, as implicações são enormes. Se as experiências próximas da morte e fora do corpo não vêm do cérebro, em que se baseia a consciência?
"Existem duas maneiras de se ver o universo", diz Fenwick. "O modelo aceito atualmente diz que tudo é matéria".
Em outras palavras, tudo o que a ciência considera "real" possui uma forma física que pode ser percebida por nossos sentidos. Mas este modelo, que os filósofos chamam de "materialismo radical", não pode explicar a existência da consciência, que não possui uma essência física.
Então, como fazemos para explicá-la? "Um pequeno milagre inexplicado acontece, e então surge a consciência", diz Fenwick a respeito do atual paradigma.
No entanto, outra teoria propõe que a constituição básica do universo seja não a matéria, mas a própria consciência. É a abordagem transcendental, uma perspectiva compartilhada por muitas religiões.
"Esta segunda forma de ver o universo faz com que seja muito mais fácil compreender estas experiências", diz Fenwick, que acredita que um dia a ciência vai adotar a visão transcendental do universo.
O advento da mecânica quântica, segundo a qual a matéria pode ter ao mesmo tempo uma forma física e uma forma ondulatória, é um passo nessa direção, afirma, assim como as recentes pesquisas em torno do poder da oração, que sugerem que as pessoas são beneficiadas pelas orações alheias, mesmo que não estejam cientes delas.
Estes estudos foram interpretados por alguns estudiosos como um indício de que a consciência se comporta como um "campo", de maneira semelhante ao magnetismo, que podem ser alterados pela interação com outros campos. Se isso for verdade, então é possível que a consciência de uma pessoa tenha influência sobre a de outra.
Agora, Fenwick e Parnia esperam realizar novas pesquisas sobre experiências de quase-morte e experiências fora-do-corpo. Se eles conseguirem arrecadar o dinheiro de que precisam, irão estudar cem vítimas reanimadas de ataques cardíacos que tiveram experiências de quase-morte. De acordo com as pesquisas 30 delas podem ter tido experiências fora do corpo.
A dupla pretende ainda colocar cartas acima da cabeça dos pacientes, que só poderão ser identificadas se vistas de cima - exatamente de onde as pessoas alegam ver seu próprio corpo na UTI.
Mas será que isso vai convencer os céticos? "Não, nada vai. Mas tudo bem", diz Fenwick, rindo. "É assim que a ciência progride. Qualquer pesquisa que proponha grandes mudanças na forma como as pessoas vêem o mundo é rejeitada. Mas vamos provar que a consciência não está no cérebro".
Outra coisa que a pesquisa prova é que ainda existe vida nas pesquisas sobre vida após a morte.
Por Daithi Oh Anluain
18h - 31 de outubro de 2002
Wired News, traduzido para o Portal Terra.
Revisado por Valdomiro Kornetz.
Ambos os responsáveis pela iniciativa, o dr. Sam Parnia, pesquisador da Universidade de Southampton e o dr. Peter Fenwick, consultor de neuropsiquiatria da Universidade de Oxford, são cientistas respeitados.
Experiências de quase-morte são mais comuns e costumam incluir a visão de uma luz branca. Já nas chamadas experiências fora do corpo, as pessoas geralmente observam serenamente seu próprio corpo enquanto os médicos trabalham desesperadamente para ressuscitá-lo. Os pesquisadores fundaram um fundo beneficente chamado Horizon Research, para promover o estudo desses fenômenos.
Ano passado, Parnia publicou um estudo indicando que 10% dos pacientes clinicamente mortos que puderam ser ressuscitados têm lembranças do momento em que estavam sem vida. Entre as evidências reunidas pelo cientista está o fato de que alguns desses pacientes reconhecem pessoas com as quais jamais haviam tido contato antes, mas que ajudaram na ressuscitação. Outros se lembram das conversas entre os médicos.
De acordo com o que é aceito pela medicina, estas lembranças não deveriam ser possíveis, devido à ausência de atividade cerebral.
Há muito, esta teoria (sobrevivência da consciência ao corpo) tem sido ricularizada pela comunidade científica. Mesmo aqueles que queriam acreditar que "a verdade está lá fora" acabaram se rendendo ao ceticismo.
Susan Blackmore já foi um dos maiores nomes da pesquisa paranormal na Grã-Bretanha. Ela concluiu em seu livro "Dying to Live", que fala sobre experiências próximas da morte e fora do corpo, que esses casos são resultado da anóxia, a falta de oxigênio no cérebro.
Embora o ceticismo permaneça, os cientistas estão começando a reconhecer que é preciso pesquisar mais.
Em dezembro de 2001, o neurologista holandês Pim van Lommel do hospital Rijnstate, na cidade de Arnhem, liderou uma equipe que publicou um artigo no respeitado jornal de medicina britânico "The Lancet". O estudo mostrou que 18% dos pacientes com morte clínica que puderam depois ser ressuscitados podiam lembrar de experiências próximas da morte mesmo anos depois do evento.
Outro estudo, este conduzido nos Estados Unidos pelo pai da pesquisa das experiências próximas da morte, Kenneth Ring, usou pacientes cegos, que se lembravam de ter visto seu corpo enquanto se encontravam clinicamente mortos, embora ligeiramente fora de foco. O livro "Mindsight" foi inspirado neste estudo.
Nem Fenwick nem os outros cientistas envolvidos nesse tipo de pesquisa postulam a vida após a morte propriamente dita. Eles falam apenas de consciência após a morte.
Mesmo assim, as implicações são enormes. Se as experiências próximas da morte e fora do corpo não vêm do cérebro, em que se baseia a consciência?
"Existem duas maneiras de se ver o universo", diz Fenwick. "O modelo aceito atualmente diz que tudo é matéria".
Em outras palavras, tudo o que a ciência considera "real" possui uma forma física que pode ser percebida por nossos sentidos. Mas este modelo, que os filósofos chamam de "materialismo radical", não pode explicar a existência da consciência, que não possui uma essência física.
Então, como fazemos para explicá-la? "Um pequeno milagre inexplicado acontece, e então surge a consciência", diz Fenwick a respeito do atual paradigma.
No entanto, outra teoria propõe que a constituição básica do universo seja não a matéria, mas a própria consciência. É a abordagem transcendental, uma perspectiva compartilhada por muitas religiões.
"Esta segunda forma de ver o universo faz com que seja muito mais fácil compreender estas experiências", diz Fenwick, que acredita que um dia a ciência vai adotar a visão transcendental do universo.
O advento da mecânica quântica, segundo a qual a matéria pode ter ao mesmo tempo uma forma física e uma forma ondulatória, é um passo nessa direção, afirma, assim como as recentes pesquisas em torno do poder da oração, que sugerem que as pessoas são beneficiadas pelas orações alheias, mesmo que não estejam cientes delas.
Estes estudos foram interpretados por alguns estudiosos como um indício de que a consciência se comporta como um "campo", de maneira semelhante ao magnetismo, que podem ser alterados pela interação com outros campos. Se isso for verdade, então é possível que a consciência de uma pessoa tenha influência sobre a de outra.
Agora, Fenwick e Parnia esperam realizar novas pesquisas sobre experiências de quase-morte e experiências fora-do-corpo. Se eles conseguirem arrecadar o dinheiro de que precisam, irão estudar cem vítimas reanimadas de ataques cardíacos que tiveram experiências de quase-morte. De acordo com as pesquisas 30 delas podem ter tido experiências fora do corpo.
A dupla pretende ainda colocar cartas acima da cabeça dos pacientes, que só poderão ser identificadas se vistas de cima - exatamente de onde as pessoas alegam ver seu próprio corpo na UTI.
Mas será que isso vai convencer os céticos? "Não, nada vai. Mas tudo bem", diz Fenwick, rindo. "É assim que a ciência progride. Qualquer pesquisa que proponha grandes mudanças na forma como as pessoas vêem o mundo é rejeitada. Mas vamos provar que a consciência não está no cérebro".
Outra coisa que a pesquisa prova é que ainda existe vida nas pesquisas sobre vida após a morte.
Por Daithi Oh Anluain
18h - 31 de outubro de 2002
Wired News, traduzido para o Portal Terra.
Revisado por Valdomiro Kornetz.
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