15 de abril de 2009

Drogas, pais e filhos, por Christopher Goulart*


Entre tantas barbaridades com que deparamos diariamente diante das páginas dos jornais, fatos que de tão repetitivos passam a ser lamentavelmente normais, como corrupção, enriquecimento ilícito e violências de todas as formas possíveis, certamente nesta semana o Rio Grande do Sul ficou em choque com a notícia da mãe que matou seu filho a tiros de espingarda em decorrência do crack, num bairro de classe média alta de Porto Alegre. Isto não é novidade, pois Zero Hora já noticiou casos similares ocorridos na periferia da Capital, mas o que vemos agora é a comprovação do engano daqueles que pensavam que esta droga letal só atinge os moradores de favelas. Aqui, a primeira constatação: é preciso que um filho de família abastada morra tragicamente para chamar a atenção da sociedade para um problema que não tem classe social.

Na verdade, esse jovem não morreu no momento do disparo da arma. Esse jovem e tantos outros começam a morrer lentamente quando iniciam o consumo de entorpecentes na adolescência e seguem sem rumo para o caminho da destruição de suas vidas. O que está acontecendo com a sociedade, que testemunha pacificamente o absurdo de perder os jovens para as drogas? O que podemos fazer para que isto não aconteça mais? Sejamos sinceros com nossa consciência, pois muitas vezes a resposta está a um palmo dos olhos, e não enxergamos pela justificativa hipócrita da “falta de tempo”. Tempo pra quê? Para pensar em coisas fúteis e materiais, vaidade, dinheiro, status, e tantas outras superficialidades que no dia da morte não serão levadas para outros planos? É exatamente assim que deixamos de semear o amor na terra e esquecemo-nos de que o diálogo afetivo com nossos filhos é um ato de amor. Na ausência deste amor, perdemos nossos filhos para as drogas.

Mais do que diálogo aberto e interesse por absolutamente tudo que rodeia a vida de nossos filhos, que são a continuação de nossas próprias vidas, faz-se fundamental na atual circunstância que a escola passe a ter um papel decisivo na formação da criança e do adolescente na questão das drogas, conscientizando os alunos de que o consumo leva inexoravelmente a tragédias fatais. E tudo o que uma criança não quer é morrer! Será que o Estado não enxerga isso por “falta de tempo”, ou é tão difícil assim perceber que devemos ter nos currículos escolares um instrumento que evite tragédias como a que ocorreu na zona sul de Porto Alegre?

Outra opção para a guerra contra as drogas e a formação íntegra de nossos filhos, além de dar-lhes amor e uma escola combativa, pode residir na prática de esportes, e só cabe aos pais o incentivo. Todos nós sabemos que esporte e drogas não combinam, e, portanto, além da família, também o Estado deve colaborar neste aspecto, para contribuir para que os jovens não sucumbam na mão nefasta de traficantes.

O fato é que o Estado até pode falhar, mas os pais não têm o direito de pecar por falta de amor – sejam eles da classe social baixa, média ou alta – e muito menos de justificar a ausência com seus filhos em decorrência de “falta de tempo”, perdido inutilmente num mundo devastador de valores elementares, onde o sentimento mais divino da humanidade é preterido por assuntos supérfluos que no fim das contas não nos levam a lugar algum.


Zero Hora
15 de abril de 2009 | N° 15939

*Advogado, neto de Jango, pai de Valentina

Um comentário:

Anônimo disse...

Tanta nas classes pobres como nas mais abastadas o uso da droga é causado pelo abandono, no primeiro caso ficam pelas ruas por não ter nada e no segundo vão para as drogas justamente por ter tudo.
Os pais precisam ensinar os limites, mesmo que pareçam antigos e ultrapassados.
Vim conhecer seu blog por meio do convite de amizade no dihitt.